Flamengo, o novo Fio Maravilha é agora Jesus

Corria o mês de Janeiro ano 1972 quando o Benfica atravessou o Atlântico para defrontar o Flamengo no Torneio Internacional de Verão do Rio de Janeiro. Os vermelhos e brancos seriam derrotados com um golo que ficou na história do mundo desportivo, mas sobretudo para a história da música popular brasileira.
O Maracanã vibrava, a torcida puxava, mas os golos tardavam. Aos 33 minutos do segundo tempo, João Batista Sales, entrado após o intervalo, quebrou o enguiço e marcou para a equipa da casa. 
O músico e compositor Jorge Ben Jor era um dos mais de 44 mil espectadores que estavam no estádio, assistiu à partida e festejou a vitória, mas chegado a casa, terá concluído que o jogo não teve direito a transmissão televisiva, e por isso não havia como tornar pública a "jogada celestial". Vai daí e decide fazer uma música para descrever o acontecimento e assim cria uma música que nos deixa a ver a jogada a acontecer, como se do relato e transmissão se tratasse:


"E novamente ele chegou com inspiração
Com muito amor, com emoção
Com explosão e gol
Sacudindo a torcida aos trinta e três minutos do segundo tempo
Depois de fazer uma jogada celestial em gol!
Tabelou, driblou dois zagueiros
Deu um toque, driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol!
Foi um gol de classe
Onde ele mostrou sua malícia e sua raça
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
Que a galeria agradecida assim cantava
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
Que a galeria agradecida assim cantava
Fio Maravilha, nós gostamos de você
Fio Maravilha, faz mais um pra a gente ver!"


A música imortalizou a jogada e o golo, e nesse mesmo ano venceria o Festival da Canção, interpretado por Maria Alcina. E quem também procurou ganhar alguma coisa com o sucesso da música foi o jogador João Batista Sales, abrindo um processo judicial para cobrar direitos de autor. Jorge não se deixou ficar e alterou criativamente o nome de «Fio Maravilha» para «Filho Maravilha», contornando o diferendo e seguindo com o sucesso até hoje.
O jogador emigrou para os Estados Unidos e apenas em 2007 acabaria por retirar o processo, aliás devido a uma situação bem curiosa. Conta o próprio que entrou no autocarro para ir até ao centro do Rio e ouviu uma senhora comentar com outra, "conhece esse rapaz que passou? é o ingrato do ex-jogador do Flamengo que está processando o Jorge Ben". João Batista Sales reconheceu a ingratidão e sanou o conflito, é caso para dizer, bem ditas sejam as que falam verdades nos transportes públicos.

Ontem, ao fim 38 anos, o Flamengo voltou a vencer a Taça dos Libertadores da América e deve-o em boa parte a Jorge Jesus. 
A origem desta competição remonta a Setembro de 1958, quando o brasileiro José Ramos de Freitas iniciou esforços para criar um campeonato sul-americano de clubes campeões. Um ano depois seria anunciada a criação da Copa dos Campeões da América, que reuniria todas as equipas campeãs nacionais na América do Sul, e em 1965, o nome do torneio seria justamente alterado para Taça Libertadores da América em homenagem aos heróis das independências das nações sul-americanas, como Simón Bolívar, José Martí, entre outros.
Dado o feito de Jesus, e apesar da transmissão televisiva, quem sabe ainda Jorge Ben Jor compõe nova música para o Fio Maravilha II?





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